Se o gaiteiro estava tomado pela nostalgia que se chamará saudade, tocou chorado. Se tocou chorado, foi o primeiro choro, 500 anos antes de Pixinguinha.
Pedro Álvares Cabral tinha descoberto o Brasil havia apenas cinco dias quando aconteceu o que conto a seguir.
Um gaiteiro da tripulação desceu à praia e começou a tocar. Caminha não diz, mas era coisa animada.
Os pelados (Caminha só os chama assim) correram para ouvir. Fez-se uma roda. O gaiteiro tomava os pelados pela mão, eles folgavam e riam.
Sabemos como são essas confraternizações com nativos. Lembram-se do príncipe Charles requebrando com a Pinah no ensaio da Beija Flor?
O garotão português, embarcado à força, sentia uma coisa que ainda não tinha nome. Empolgado, fez voltas ligeiras no chão (miudinho?), deu vários saltos reais, vai ver que sua especialidade nos bailes de aldeia.
A gaita, é bom avisar, não era de boca, daquelas que menino pobre ganha no Natal. Era de fole, parecida com a dos escoceses.
Foi este o primeiro baile da história do Brasil. Se o gaiteiro estava tomado pela nostalgia que se chamará saudade, tocou chorado. Se tocou chorado, foi o primeiro choro, 500 anos antes de Pixinguinha.
Escrito por Joel Rufino dos Santos
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