17 de agosto de 2012

A História não conta que crianças foram à Guerra do Paraguai...


Mary Del Priore, historiadora e autora do livro História das Crianças no Brasil, chama atenção para a importância fantástica que assume um pesquisador (Fábio Pestana Ramos), ao estudar a Carreira da Índia encontrar preciosas informações sobre a presença de crianças nos barcos. Vinte por cento da tripulação que vinha para o Brasil ou ia para o Pacífico eram crianças. Por quê? Elas ocupam pouco lugar, comem pouco e é facilmente subjugada. Eram recrutadas na rua. Graças a esse estudioso nós tomamos conhecimento de que a criança de rua existe há pelo menos 500 anos. Outras vezes, eram entregues pelos próprios pais, gente pobre, para os capitães dos navios.
A gente vai ver como perdura a insensibilidade diante do desaparecimento da criança pobre, entregue à sua própria falta de sorte, abandono e miséria.
Durante a Guerra do Paraguai, repetiu-se a mesma coisa. Crianças eram retiradas das ruas pelo delegado de polícia, ou recrutadas nos orfanatos, para servirem de bucha de canhão na Marinha brasileira. Uma vergonha criminosa praticada por militares desalmados, frios e cruéis. E o pior: o trabalho a que eram obrigados a fazer era o mais arriscado: encher canhão, carregar pólvora, munição, tratados como escravos, mal alimentados com um mínimo de alimentação, suficiente apenas para mantê-los vivos.
O livro aponta para a insensibilidade diante do trabalho infantil, os aspectos sombrios da sociedade brasileira em relação à criança. Dessa triste “Estória” a “História” nada conta. O que conta são as façanhas dos combatentes brasileiros na Guerra do Paraguai, comandada pelo glorioso herói Almirante Tamandaré, tão celebrado e enaltecido. Quantas crianças morreram de maus tratos, por acidentes e de desnutrição, sabe Deus...

Fonte de informação: Entrevista com a historiadora Mary Del Priore, publicada em outubro de 1999, reescrita por Zenóbia C.M. Cunha.


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