25 de agosto de 2012

Portugal no tempo das Caravelas


Antes de Portugal sonhar em ser um império marítimo colonial, a situação econômica do país vinha se agravando com rapidez. Desde o século XIV, os camponeses fugiam em massa para as poucas cidades, sobretudo Lisboa e Porto.
Isso contribuiu para criar uma situação na qual reinava a escassez de alimentos, pela falta de braços no campo para produzir o mínimo necessário à subsistência da população nas cidades superlotadas. Surgiu, assim, um exército de vagabundos e desempregados em busca de oportunidades. Gente que estava disposta a qualquer coisa para continuar viva. Nas cidades, no limite, os ex-servos viviam da mendicância e de pequenos delitos, o que lhes dava até mesmo a chance de alguma mobilidade social, impossível na zona rural. Se tivessem a sorte de assaltar um viajante próspero, poderiam comprar sardinhas e pão para comer com azeite, tudo regado a vinho de baixa qualidade. Essa era a base da alimentação do chamado povo miúdo, os pobres e despossuídos.
Devido à miséria crescente, semelhante à que hoje se observa em favelas brasileiras, andar pelas cidades era arriscado. Esquecidas pelo Estado, as pessoas honestas ficavam à mercê dos malfeitores. Para escapar da marginalidade, muitos homens começaram a disputar as vagas em navios pesqueiros. Posteriormente, acabaram embarcando na aventura dos descobrimentos.
Nem sempre, porém, foi possível encontrar tripulantes em número suficiente para as caravelas quinhentistas. Existiam obstáculos de ordem psicológica que impediam muitas pessoas de arriscar a sorte em alto-mar. Monstros e medos povoavam o imaginário europeu quando o assunto era a imensidão do mar. Algo que só foi mudando confrome as explorações marítimas avançaram.
Por esse motivo, a Coroa portuguesa supriu a carência de tripulantes por meio do recrutamento de homens fora-da-lei e condenados pela justiça. A contrapartida era o perdão de seus crimes ou a troca de penas capitais por serviço compulsório nas embarcações.
Se nada disso bastasse, a Coroa poderia fazer - e fez - uso do rapto de vagabundos e desabrigados encontrados nas ruas das cidades. Também utilizou estrangeiros, em geral franceses, alemães, italianos, holandeses e ingleses, deixando os segredos marítimos expostos à cobiça de espiões. Por fim, chegou ao extremo de fazer embarcar crianças de 7 anos para postos sobre os quais recaíam as tarefas mais perigosas e pesadas - atitude hoje considerada criminosa, mas, à época, encarada com naturalidade.
A exemplo dos ingleses, os portugueses poderiam ter se valido da mão-de-obra africana, escravizada ou liberta. Para os lusos, porém, ter negros a bordo era sinal de mau agouro. Segundo a concepção da época, eles só serviam para comer, beber e gritar nas tormentas. O abominável preconceito decorria da visão de que os não-cristãos, como os africanos, viviam em pecado mortal.

*Texto de Fábio Pestana Ramos, doutor em história social pela USP.


Um comentário:

Jose Bauer disse...

Parabéns!!!! Gostei da Historia...Descendência do povão...